Ivan Lopes de Almeida
O Diretor
de Cenografia quando se sentou na prancheta para desenhar
nosso cenário foi muito feliz. Criou montanhas ora abruptas e ora
suaves com clara intenção de separar os diversos planos e facilitar
a vida do Diretor de Fotografia. Nos entre meios locou
pequeníssimos riachos que se avolumam até criar rios caudalosos com
suas cachoeiras barulhentas que tanto encanta o Diretor
de Efeitos Especiais.
O Diretor de Iluminação foi
bastante sutil ao criar um tapete tridimensional de estrelas que de
quando em quando se esmaecem para apresentar uma Lua desse tamanho
saindo de traz da montanha e dando um tom prateado às araucarias e
às águas dos riachos.
Os continuistas deram ação ao
lugar alocando uma vaquinha aqui um cavalinho ali e até uma
mula que contracena com os figurantes e expectadores.
Há também uma quantidade enorme de passaros que fazem uma
algazarra danada voando por entre as arvores.
O que destoa um
pouco desse belíssimo espetáculo são os extras e
os figurantes. Como em todo grande espetáculo, êles
são centenas e cada um deles acha que pode mudar um pedacinho
do cenário: põe uma faixa aqui, um cartaz ali, uma luz lá, um
holofote que ofusca mas não ilumina e tudo
isso na melhor das intenções ou na mais santa
ignorância, achando que isso não vai fazer
diferença.
Faz sim. Faz muita
diferença. Os expectadores são uns pentelhos, teimam em querer
fotografar nosso show (devia ser proibido). Olham tudo, fazem a
foto e saem por ai dizendo que estamos destruindo o cenário.
Isso vai parar na imprensa, ai vem os fiscais do Departamento de
Diversões Públicas, da Defesa do Cosumidor, do Código de Postura e
o escambau. Nossa imagem vai pro saco e o da poltrona
desaparece.
E vocês
sabem, espetáculo sem o da poltrona pagando pra vêr, se
degrada, vai a falência, acaba. Já é uma dificuldade manter
um público pagante de alto nível considerando o custo médio do
nosso ingresso e as condições da chegada da nossa
sala. Nada ajuda. O que a gente menos precisa é de quem atrapalhe.
Parece que vão
melhorar o caminho até aqui e que vamos ter até um foier, meio que
uma sala de espera, em pontos estratégicos para o da poltrona ir se
acostumando com o nosso show. O Pessoal da maquinária quer até saber se
podem colocar a temperatura dessas salas igual a do antigo bar do
Cantri Club do Rio de Janeiro, quando os sócios em pleno verão, pediam
antes
do almoço um conhaque Remmi Martin em taça aquecida, pra abrir o
apetite.
Vamos ver, vamos ver. Parece uma boa
idéia.
Antes desses
penduricalhos, temos que ver nossa comunicação. Nosso show é
caro para os padrões usuais e em consequencia, necessitamos de um
público pagante (o da poltrona) seleto, com renda acima da média. Falar
com esse público é um a
arte. Êles são arredios aos meios de comunicação que
estamos acostumados. Seria ótimo se pudessemos contar com um
profissional da área para nos ajudar.
Aliás, por falar
em profissional, gente vamos parar de chamar amador para dar peruada em
nosso espetáculo? É muito repetitivo. Perdemos um tempão
reinventando a roda.
Hoje temos ótimos profissionais na praça com
custos competitivos que certamente caberiam no nosso orçamento se
lhes fizessemos uma proposta meio que permuta. Disponibilizariamos
para esses profissionais ou empresa, nossa imagem de grande
espetáculo, alguns ingressos e um lugar de destaque no nosso
programa. Em troca queremos uma assessoraria em nossa
comunicação. É assim que muitos espetáculos, sem a
grandeza do nosso, se comunicam com a mídia.
Ainda tem a tal da
internet. Todo mundo conhece um um sobrinho
da mulher do primo do caseiro que entende como
ninguém desse negócio de web dsig n er. Ai, lá vamos nós inventar a
roda. Não funciona mas é barato.
Gente, pra ser show tem que ser
profissional.
Show é Show, vamos prás cabeça!
Merda prá
vocês
Ivan Lopes de
Almeida
figurante