Estrada Parque – Uma Crônica
(Atenção: texto transcrito ipsis litteris, sem qualquer alteração ou correção)


06/06/10

Estava fixamente olhando minha bola de cristal e fiquei horrorizado com as coisas que apareciam. A Estrada Parque surgia apavorante e trazia consigo grandes mazelas para a Região: o crack entrava e tomava conta de Mauá; as crianças, contaminadas pela violência, portavam armas e brigavam entre si, estimuladas por jogos digitais ? algumas até se drogavam no telhado da escola; o Rio Preto estava totalmente poluído; os loteamentos irregulares surgiam por todos os lados; os turistas morriam ou se acidentavam em quadricíclos alugados; a saúde pública era precária; a segurança pública era pior ainda . . .

Que cenário negro. Maldita Estrada! Quanta destruição e catástrofes você vai trazer, repetia eu sem parar.

Foi quando, de repente tirei meus olhos da bola de cristal e resolvi olhar ao meu redor. Fiquei apavorado e quase caí da cadeira. Aquilo tudo que eu imaginava ser futuro, na realidade, já estava acontecendo e eu nem havia percebido. E olha que a construção da Estrada Parque nem começou!

E o que eu fiz para evitar essa situação?

Eu estava tão preocupado com as ameaças que estavam por vir que deixei de olhar para os lados e não fiz nada para melhorar o presente.

O que vou fazer agora? Talvez seja melhor eu fingir que nada sei e quando a Estrada chegar, eu grito bem alto: Eu não falei? Essa estrada acabou com nossa comunidade!

Mas, por outro lado, e se a Estrada não vier? Como vou justificar os problemas todos existentes? Quem ou o que eu vou culpar? Vou ter que descer do meu trono e agir de alguma forma. Vou ter que guardar minha bola de cristal e me mexer; abandonar a situação confortável de observador e me mostrar como cidadão.

Vai dar muito trabalho. Talvez seja melhor a Estrada vir e eu ficar de longe jogando pedra na turma “de cabelos brancos bem sucedidos”. Só não posso me esquecer de pintar o meu cabelo, porque posso ser confundido com eles e ter que trabalhar.

Denise Ramos Cervone
Moradora da Região de Visconde de Mauá