Plano Básico Ambiental
Programa de Educação Ambiental e
Programa de Comunicação e Responsabilidade Social

Por Joaquim Moura

Após assistir à apresentação (em 17/07/2012)  dos relatos do que foi feito por dois dos principais programas do Plan o Básico Ambiental - PBA, gostaria de deixar registrado alguns pontos que considero relevantes, até como sugestão para aperfeiçoá-los para a segunda fase de sua ação, agora vinculada à continuidade da obra da RJ-151.

1: As ações previstas nos dois programas foram executadas conforme o planejado, e têm certamente o seu mérito e importância; são mesmo indispensáveis. Como não apreciar todo o esforço, tantas iniciativas, encontros e oficinas sobre tantos temas imprescindíveis a serem popularizados - não só aqui, mas em todas as comunidades com características parecidas, cujos atrativos naturais atraem um número crescente de visitantes?
2: Porém senti falta de uma abordagem mais especificamente ligada à nossa realidade, mais relacionada com os desafios que a facilitação do acesso nos colocou. Na minha opinião, o mais importante seria despertar a consciência da população para torná-la a maior interessada em defender enfaticamente a preservação da natureza local, e em rejeitar, firmemente, qualquer medida que pudesse prejudicar o ambiente - a não ser que se encontrassem os meios para neutralizar os impactos negativos. Acredito que seja possível evitar e neutralizar - ou pelo menos mitigar - os vários impactos negativos de médio e longo prazos decorrentes da facilitação do acesso, mas é indispensável que a população compreenda o que está em jogo: o seu futuro, pois a região depende em praticamente 100% dos turistas que aqui vêm atraídos por sua natureza exuberante. Murchando esta, a comunidade pagará.
3: Se esse trabalho de conscientização ecológica da comunidade como um todo tivesse sido bem feito, não estaríamos vivendo essa situação atual, onde segmentos importantes da comunidade - inclusive as atuais lideranças das associações empresariais e de moradores locais - hostilizam os "ambientalistas" por que estes exigem o respeito à legislação brasileira e o cumprimento das condicionantes da Licença de Instalação da obra. A mera existência dessa hostilidade e tamanha rejeição revela uma "ignorância ambiental" cuja superação deveria ter sido priorizada nos programas de Educação Ambiental do PBA e também do INEA. Em vez de focar nas crianças, deveria focar na população adulta, lideranças empresariais e populares e gestores públicos.
4: Por exemplo, na reunião anterior do PBA, ouvimos (constrangidos) o secretário de Planejamento de Itatiaia chamar, mais de uma vez, os "ambientalistas" de "nazifascistas" por quererem "proteger as pererecas e os pernilongos". Ao seu lado, o secretário de Meio Ambiente daquele município foi incapaz de reagir e explicar a seu colega a importância da biodiversidade para a preservação da natureza e a sustentabilidade da sociedade. Vai ver, pensam igual. Realmente, depois da RIO+20 querer desclassificar as preocupações dos ambientalistas é querer inviabilizar o desenvolvimento sustentável do lugar - assim como nenhum planejamento estratégico pode avançar sem a sua contribuição. Certamente o secretário deveria assistir ao vídeo gravado na vistoria do perito antes de vir falar em nazifascismo conosco. Patético, pois ficou claro que ele não planeja para o longo prazo. 
5: De fato, sem desmerecer o trabalho feito, ele corre o risco de ser insuficiente se não for integrado a uma proposta de "alerta máximo urgente" da população com relação a seu futuro. Faltou mobilização sistemática. Faltou convocar a juventude. Faltou criar emoção. Seminários parecidos, workshops. oficinas de educação ambiental etc. já houve várias por aqui, mas como nunca estiveram integradas a um trabalho permanente e sistemático, não adiantaram muito
6: O principal produto do programa de EA do PBA seria uma cartilha - ou "fanzine", como gostam de dizer - destacando a importância da preservação do ambiente e da memória local, mas resultou numa publicação pouquíssimo comunicativa, e portanto inútil
7:

Por tudo isso eu venho sugerindo um trabalho que prioriza três eixos: (1) projeto multifuncional com os jovens do Colégio Estadual; (2)   gestão ecológica e exemplar do lixo (enfatizando a compostagem do lixo orgânico); e (3) criação de um sistema de "educomunicação comunitária" incluindo jornal-mural, internet e eventuais boletins . Com esse tripé se pode alavancar uma transformação cultural, na direção da sustentabilidade. Sem ele, nada feito. Esperamos que o programa de EA para a RJ-151 tenha um planejamento mais participativo e uma abordagem mais estratégica de seu objetivo.

8:

Quanto ao Programa de Comunicação e Responsabilidade, também executado perfeitamente de acordo com o encomendado preliminarrnente pela Seobras, teria sido mais útil se focado no esclarecimento da população e se tivesse condições para exigir, por exemplo, correções na comunicação do DER ao longo da estrada RJ-163, cujos erros nas placas - irresponsavelmente cometidos e mantidos - há meses chocam as pessoas educadas, e desorientam as mais jovens ou as mais humildes que transitam por ela.

9: Por fim, para mostrar como esses programas baseados em palestras etc. têm uma eficácia muito relativa - ficando melhor em relatórios e apresentações em PowerPoint do que na dura realidade do dia-a-dia, gostaria de mostrar abaixo como são tratados, de fato, os resíduos produzidos pela interminável, dispendiosa e dispensável obra estadual de construção do "Centro de Turismo e Artesanato", em andamento há três anos (um elefante branco em passo de lesma ). Esse montão de resíduos está abandonado semioculto em plena vila de Visconde de Mauá, entre o "complexo cultural" e o depósito abandonado pelo DER ao lado do restaurante Mauá Grill. Mas talvez seja esse aí mesmo o atual padrão da engenharia praticada na Secretaria Estadual de Obras e de educação ambiental da UERJ. (Nota: depois de divulgadas as fotos abaixo nas redes sociais, a Seobras mandou limpar e arrumar o canteiro da obra, e hoje o visual na área está um pouco melhor)

  1.  .


Olhando por um buraco no tapume do Complexo Cultural...


...vi um lixão escondido que ninguém vira até então.


De perto esta visão desmentia o que eu há pouco escutara...


...na apresentação do Programa de Educação Ambiental.