Apresentação crítica do Seminário
Controle do acesso e circulação interna
realizado em 29 de novembro de 2010 pela Mauatur com apoio da ACVM e Sebrae-RJ



Esse Seminário para controlar o acesso à região caracterizou-se, antes de tudo, pela maneira como foi organizado, excluindo expressamente a participação das entidades e voluntários que se dedicam, há décadas, a aos desafios socioambientais da região. Quem respeitaria um "controle do acesso" assim tão excludente?

.. É como se os atuais dirigentes da "Associação Turística e Comercial de Visconde de Mauá - Mauatur" e da "Associação Comercial de Visconde de Mauá - ACVM" quisessem representar todas as pessoas que aqui residem e traduzir suas variadas preocupações, sem ter mandato nem vocação para tanto.

.. Também foram notáveis o patrocínio do Sebrae-RJ para um evento tão unilateral e excludente (o contrário de tudo que o Sebrae preconiza em sua filosofia) e o apoio de autoridades municipais e estaduais, que deveriam zelar mais pelos valores da cidadania e estimular a governança participativa e democrática.

.. Esse Seminário não tinha qualquer chance de chegar a alguma conclusão objetiva, se dele não participavam vários atores que poderiam informar sobre pontos cruciais, como a viabilidade legal (e econômica) de se cobrar uma "taxa ambiental", ou "pedágio rodoviário" no tal Portal, que ninguém sabe como funcionará, nem quanto custará sua operação e manutenção. Para isso seria necessária a presença de representantes do DER-RJ, talvez do Ministério dos Transportes, do ICMBio e/ou da APA da Mantiqueira, da Prefeitura (prevê-se um posto da Guarda Municipal associado ao tal Portal) etc.

... Preferiram convidar representantes de "casos de sucesso" de "turismo sustentável" e "controle de acesso", mas escolheram dois casos que pouco podem nos ensinar: Bonito fica a mais de 1000 km da megalópolis mais próxima; e Ilhabela, como o nome já diz, é uma ilha, mas mesmo assim já sucumbiu vítima do turismo de massa em plena fase de explosão.

.. Melhor faria a Mauatur, caso quisesse mesmo enfrentar os desafios que nos aguardam, se convidasse representantes de destinos turísticos entre Rio e São Paulo, como Campos de Jordão e Penedo, Paraty, Trindade ou Angra dos Reis, que suportam uma pressão de milhões de pessoas morando a poucas horas de distância. Se a Mauatur contasse com a colaboração dos "socioambientalistas" que ela excluiu, nós teríamos facilmente percebido e alertado para essa falha no planejamento do Seminário. 

...O desejo oculto da atual diretoria da Mauatur é empalmar indevidamente a representação da região, sem que ninguém lhe tenha solicitado - que dirá autorizado. Basta ler o requisito n# 1.3 encaminhado pela Mauatur ao governo do estado ou os seus boletins, onde ela sempre se apresenta como vetor de mudanças positivas, defesa da comunidade, e interlocutor junto ao governo, jamais prestigiando o Conselho Gestor, que deve fazer esse papel de acordo com as normas da boa governança, participativa, republicana e pedagógica.

...Para alcançar seu objetivo, lança mão do acesso privilegiado que seus diretores têm às autoridades políticas do momento para excluir os demais atores locais e moldar as intervenções do governo, na região, segundo os seus interesses. Porém, quando as ações do poder público chegam à comunidade assim desse modo, como resultado de uma ação entre amigos, quem perde é a cidadania, que fica impedida de questionar os aspectos obscuros.

.. O efeito dessa política excludente e prepotente é o enfraquecimento da coesão comunitária, justamente quando ela precisava estar mais forte do que nunca, diante dos desafios trazidos pela facilitação do acesso à região.