Estará o jornal Folha da Serra semeando a cizânia entre os empresários da Mauatur e os ambientalistas da região de Visconde de Mauá?

Leia a matéria abaixo e os comentários a seguir e tire as suas próprias conclusões



Comentário 1: Mensagem de Luis Felipe Cesar solicitando ao jornal "Folha da Serra" a sua publicação como "direito de resposta" ao artigo exibido acima.

Ilma. Sra. Roseli Oliveira da Silva
Editora do Jornal Folha da Serra

Sra. Editora,

Em virtude de matéria intitulada Mauatur realiza reunião, (http://amigosdemaua.net/textos/reuniao%20mauatur.htm ) publicada na edição janeiro/fevereiro/março do jornal Folha da Serra, venho solicitar a publicação do texto abaixo, em inteiro teor, a título de Direito de Resposta, com base na legislação em vigor:

Em razão de ter sido citado nominalmente na reportagem sobre a reunião realizada pela Mauatur, esclareço que:

  1. A carta por mim assinada juntamente com outros signatários, dirigida ao Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, não contém nenhuma manifestação contrária à Estrada Parque. O documento alerta a instituição internacional sobre a necessidade de se realizarem reuniões com todos os setores da sociedade local para que esteja garantido o princípio que o próprio BID defende quanto à integração dos projetos apoiados pelo Banco com as Comunidades beneficiadas.
  2. Na condição de profissional de comunicação responsável pela editoria ambiental do Jornal Folha Fluminense, tenho garantido espaço para diferentes temas e posições. Portanto, da mesma forma que noticiamos o início das obras da Estrada Parque, também noticiamos polêmicas que envolvem o assunto. Portanto, é óbvio que não procede a acusação de incoerente pelo simples fato de veicular informação qualificada sobre o tema.
  3. Quanto ao Conselho Gestor, cabe lembrar que o mesmo é um colegiado legalmente instituído e que apenas não é mais representativo em virtude da ausência voluntária da própria Mauatur.
  4. Registro profunda surpresa com o julgamento sobre minha pessoa expresso pelo presidente da Mauatur. Creio que a postura não reflete os objetivos dessa prestigiosa e tradicional organização, nem da maioria de seus membros. Lembro inclusive que a entidade mereceu uma reportagem exclusiva na editoria ambiental da Folha Fluminense, na edição de 6 de março de 2010, como prova de nosso apreço e respeito.

Aproveito para me colocar à disposição da Mauatur para comparecer a uma de suas reuniões a fim de responder pessoalmente qualquer questionamento a mim dirigido ou sobre assuntos de meu conhecimento. Considero que é tempo de todos se mobilizarem no sentido da superação de rivalidades de pequeno calibre que geram conflitos totalmente desnecessários e inúteis, que muito prejudicam o bem estar de tantos moradores da região. A Estrada Parque é uma realidade. O Conselho Gestor possui a atribuição formal de zelar pela implantação do seu Plano Básico Ambiental. Portanto, há muito trabalho pela frente para garantir que Mauá seja o que todos sonham!

Atenciosamente,
Luis Felipe Cesar


Comentário 2: Mensagem de Alvaro Braga (proprietário de moradia no Lote 10 há mais de quinze anos)

Prezado Osvaldo Caniato (e demais diretores da Mauatur),
Prezada Rosely O da Silva (editora do jornal Folha da Serra)
Prezado José Luis
Lupo Representante do BID no Brasil)

Com referência ao artigo "Mauatur realiza reunião", publicado no jornal Folha da Serra de março/2010, gostaria de expressar o que se segue:

Sou ambientalista, assinei a carta ao BID, não me escondo atrás de fachadas e como ainda não moro na Mantiqueira, tomo a mim a alusão feita na última Folha da Serra (abril-maio de 2010). Desta forma, gostaria de tecer, na qualidade de amador da região há mais de 30 anos, algumas indagações:

a) A atual diretoria da Mauatur compreende que todos nós - moradores, pousadeiros, veranistas, visitantes e turistas - somos cidadãos brasileiros ou pretendem amesquinhar os de fora limitando-os a uma mera relação de consumo? Nosso dinheiro seria bom, mas nossa opinião deveria ser desprezada?

b) Não me considero intérprete da vontade do povo e tampouco lhe reconheço esta condição. Mas, ainda que você estivesse certo na sua pretensão de “conhecer” a vontade da maioria da população local, precisaria lembrar à diretoria da Mauatur que a minoria tem o direito democrático de expressar sua opinião e de trabalhar por ela? Assim, registro que muito me orgulha ter assinado a carta aberta dos ambientalistas ao BID, fato que julgo útil ao desenvolvimento da “governança”, e consequentemente ao avanço democrático entre nós.

c) Seria interessante associar a imagem da Mauatur ao anti-ambientalismo numa região que deveria primar pelo marketing verde? Eu recomendaria cuidado para não permitir que essa tendência se estabeleça, como já começa a acontecer. Seria muito danoso ao Arranjo Local Produtivo.

d) Em tempos de mudança climática e de asfaltamento (consequentemente de mais instabilidade nas encostas e de maior trânsito pela região), folgo em saber que a diretoria da Mauatur se preocupa com o problema dos loteamentos irregulares e, espero que também já tenham percebido o das construções irregulares (especialmente aquelas feitas em áreas de proteção permanente - APPs). Afinal, ninguém gostaria de que se repetisse na região a tragédia da Pousada Sonkay (aquela da enseada do Bananal na Ilha Grande), fruto da flexibilização da legislação ambiental da APA Tamoios, não é mesmo?

Atenciosamente, álvaro Braga


Comentário 3: Mensagem de Joaquim Moura

Afinal, o que pretende a Mauatur?

Por Joaquim Moura

Após ler a matéria Mauatur realiza reunião publicada no jornal Folha da Serra de março de 2010, e estarrecido com o comportamento daquela entidade, cada vez mais hostil aos ambientalistas e ao Conselho Gestor da região, gostaria de tecer alguns comentários aparentemente óbvios porém oportunos.

Obs.: Vale ressalvar que irei comentar as declarações do presidente da Mauatur a partir do publicado no jornal Folha da Serra, que pode ter falseado o seu sentido original. Se for este o caso, peço desde já minhas sinceras desculpas, pois o que mais evito na vida é ser injusto ou descabido. Mas aí, nesse caso, eu recomendo que essa Associação envie uma mensagem de esclarecimento ao jornal, aos associados, ao BID e a quem foi solertemente atacado - em nome do presidente da Mauatur - na referida matéria.

A primeira declaração espantosa - mormente oriunda do presidente de uma associação comercial e turística que depende, para sobreviver, da preservação da natureza (muito mais do que do asfaltamento do acesso à região) - foi publicada dessa maneira: (Ele, o presidente...) Reclamou dos ambientalistas que se escondem atrás de fachadas e têm atitudes que não condizem com o discurso ecológico, como, por exemplo, loteamento de terras sem nenhum plano de urbanização da área .

Como é possível hoje em dia, em plena era de caos climático, catástrofes e impasses ambientais crescentes, alguém minimamente responsável ser contra os ambientalistas , a quem compete justamente apontar a insustentabilidade da prioridade usualmente dada ao desenvolvimento econômico e aos interesses comerciais - se não forem esses sabiamente combinados com os imperativos ecológicos e morais que exigem de nós a preservação da natureza, de suas belezas e riquezas, para as gerações futuras?

E o que ele quis dizer com se escondem atrás de fachadas? Quais fachadas? Serão as poucas ONGs socioambientais locais, que teimam em sobreviver e atuar em meio à indiferença de muitos e à hostilidade de tantos? Ora, se os ambientalistas se escondessem, não assinariam cartas-abertas às autoridades, ao BID, à OAB e a lideranças locais, e os atuais líderes da Mauatur não viveriam a criticá-los nominalmente, a boicotá-los e atacá-los pessoalmente, como se verá mais abaixo.

Também causa espécie a crítica aos parcelamentos de áreas rurais (sem nenhum plano de urbanização da área). Deve referir-se aos terrenos vendidos a pessoas amantes da natureza que preferem morar em ambientes mais naturais mas que não têm condições financeiras nem interesse para comprar fazendas inteiras - hoje cada vez mais raras, caras e inacessíveis. Certamente as pousadas e residências dos líderes da Mauatur e de tantos seus associados também foram instaladas em parcelas oriundas das antigas fazendas da região, ao longo das décadas, e também sem qualquer plano de urbanização da área. Aliás, os ambientalistas que adquirem esses terrenos são mesmo contra os planos de urbanização das áreas naturais, preferindo mantê-las ao máximo com suas características originais, combinando aspectos silvestres e rurais. Desejamos mesmo que esses lotes sejam reconhecidos como módulos periurbanos , adotando práticas produtivas agroecológicas, respeitando as áreas de Preservação Permanente - APPs previstas na legislação brasileira e integrando o Corredor Ecológico da Serra da Mantiqueira.

A seguir, o presidente da Mauatur informa que a construção da primeira estrada-parque do estado do Rio contou com o apoio científico da UERJ e uma preocupação com o meio ambiente e preservação da natureza. Mas não esclarece como esse apoio científico e essa preocupação irão - na prática - impedir que a região se degrade celeremente nas próximas décadas, a exemplo do que ocorreu em tantos destinos turísticos transformados, em pouco tempo, em proto-favelas a perder de vista - após terem existido por milênios como paraísos ecológicos. Quem conheceu as cercanias de Petrópolis e Teresópolis, Búzios e a Região dos Lagos, Angra dos Reis, Parati e toda a Costa Verde (ou mesmo Itatiaia) nas décadas que antecederam os anos 1970 sabe bem do que estou falando. O que um estudo da UERJ ou o desejo do ex-ministro do Ambiente poderá fazer, uma vez abertas as comportas, para conter tendências tão poderosas como a vulgarização, a poluição sonora e visual e a violência típicas da cultura popular contemporânea (e também futura, ao que parece)?

Mas o que mais me impressionou foi saber que a pauta da reunião da Mauatur incluiu a discussão da incoerência do ecologista Felipe César, acusado de ter assinado uma carta ao Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID denunciando a estrada-parque, e, ao mesmo tempo, ter publicado, em sua coluna no jornal Folha Fluminense, uma ampla reportagem sobre a construção da estrada-parque. Ora, caro presidente, não há incoerência alguma; primeiro por que a carta ao BID, assinada por ele e por mais cinco ambientalistas históricos da região, não denunciava a estrada-parque, mas sim estranhava, com toda razão, o fato de aquela instituição ter se reunido apenas com quem evita discutir os desafios que precisamos enfrentar, negligenciando o próprio Conselho Gestor e as ONGs mais preocupadas com os impactos sociais e ambientais previstos. E, segundo, por que - em sua coluna na Folha Fluminense - Felipe apenas saudou o início de uma obra tão aguardada, sem entrar no mérito dos aspectos socioambientais e legais envolvidos. Em vez de considerar isso uma incoerência, o presidente deveria perceber que Felipe é sensato e age de boa-fé, não tendo nenhum preconceito contra a estrada-parque , mas sim uma preocupação legítima com os impactos que advirão dela, desejando definir as formas eficazes de mitigá-los.

Agora, chamar os ambientalistas locais (alguns de projeção regional, e até nacional) de pessoas inexpressivas é demonstrar desconhecimento total da história do ecologismo no Brasil e de seus pioneiros. Para superar tal deficiência, incompatível com um dirigente de uma associação tradicional da região mais identificada com o ambientalismo e com a contracultura no Brasil, seria bom que as lideranças da Mauatur procurassem conhecer as biografias dos assinantes da "carta ao BID", e - por que não? - também disponibilizar os seus próprios currículos. (Taí uma boa ideia!)

Quanto ao número de pessoas que integram o grupo contra a estrada-parque, desconheço, e considero essa posição "contrária" romântica e em vão - como ser contra a internet ou a televisão. Porém conheço dezenas de pessoas que, embora simpáticas à estrada-parque pavimentada, temem pelos impactos e seu descontrole - e elas estão certas. O temor é ainda maior quando se percebe que as lideranças da Mauatur, em sua crescente aflição financeira (causada pela oferta superdimensionada de pousadas e restaurantes), se recusam a discuti-los e ajudar a mobilizar previamente a população contra os problemas previsíveis e iminentes.

Depois, o presidente da Mauatur nos informa que a entidade enviou uma carta-resposta ao BID. Será que a comunidade local terá acesso a esta "resposta", como teve à carta original ao BID, amplamente divulgada e disponível na Súmula 006 do portal amigosdemaua.net? é importante disponibilizar a resposta, já que a Mauatur e o BID são entidades públicas que não têm nada a esconder.

Por fim, o presidente da Mauatur se questiona ingenuamente: O conselho gestor tem representatividade? Para descobrir a resposta, deveria consultar o marco legal que institucionalizou o Conselho Gestor da Microbacia do Alto Rio Preto, inclusive o decreto municipal Resende 1609/2007, o decreto estadual RJ 40979/2007 e a Licença de Instalação para a obra da estrada-parque, emitida pelo INEA-RJ. E em vez de criticar a representatividade deficiente do Conselho Gestor, a Mauatur deveria ajudar a fortalecê-lo, e não se dedicar a enfraquecê-lo, como pretendeu ao se retirar desse fórum participativo (indispensável à boa governança local e cada vez mais adotado em todo o mundo) em manobra orquestrada com mais duas associações locais (basta ver as três cartas de desligamento - idênticas - para perceber a orquestração) com propósitos até hoje não suficientemente esclarecidos - talvez monopolizar a representação da região conforme os seus interesses comerciais.

Diante de tantas incoerências, lamento muito que a Mauatur se deixe levar por uma estratégia prepotente, excludente e errática, que mais sugere má-fé e grosseria do que mera incompetência de empresários bem sucedidos subitamente improvisados em líderes comunitários e guardiões da natureza local - mas que parecem apenas perseguir os seus interesses próprios, típicos e imediatistas.

Cordialmente, Joaquim -
jmoura@hotmail.com

R E P U B L I Q U E - S E