Sobre o Projeto Competitividade no Turismo

Mensagem de Domitila Bercht, moradora em Visconde de Mauá e bacharel em turismo, enviada a um grupo de amigos em 6 de março de 2010 e publicada (ipsis litteris) com a sua autorização.

Comentário de Joaquim Moura; comentário de Regina Guerra

Caros  Amigos e Vizinhos,

Aqui estou mais uma vez para falar de minhas preocupações com a Região de Visconde de Mauá.

Sexta feira, dia 5,  estive em  Maringá para a reunião de apresentação do Projeto Competitividade no Turismo (veja o convite em anexo ).

Os apresentadores foram Paola Tenchini, gestora local do Sebrae/RJ e Osvaldo Ramalho consultor da FGV e Instituto Ideias.   Estavam presentes representantes da  ACVM,  Mauatur e Conselho Gestor do Alto Rio Preto, mas sobrou cadeira na pequena sala do auditório do hotel Bühler. Durante a apresentação, do projeto, quando se tratou  de questões como Perfil do Turista,  Roteirização, Promoção e Divulgação, perguntei  sobre os  estudos e pesquisas necessários para se alcançar esta etapa do projeto: o Inventário Turístico e  Pesquisa do Perfil do Turista. Onde estariam disponíveis estes documentos? Seria possível a apresentação dos mesmos para interessados em Visconde de Mauá? A Paola tomou a palavra e explicou que o Inventário está no www.visiteagulhasnegras.com.br.

Pois bem,  antes da reunião, ao acessar a web não consegui  localizar o referido documento .Tive que concluir que  o portal é a própria referência do resultado do Inventário Turístico da Região das Agulhas Negras.

Indignada, não me contive, e, coloquei naquele momento minha avaliação pessoal sobre o referido portal. Tornei  público que considero o mesmo de qualidade duvidosa. E citei duas falhas do portal: informações erradas  e falta de atualização.

Não quis me estender nos detalhes, pois a reunião precisava caminhar. O importante é registrar aqui, a resposta que nos foi dada, pelos profissionais naquele momento:

  • O Inventário foi feito para o Sebrae, pela UBM – Centro Universitário de Barra Mansa.
  • A atualização do portal depende da participação de todos.  Qualquer pessoa pode fazer o login e incluir informações.
  • Já a falta de atualização, foi justificada com a observação que os dados foram coletados em 2006, e que  seriam necessárias novas pesquisas.

Observação: Nos dados da “ficha técnica” constam o nome do Prefeito e Secretaria de Turismo da gestão anterior.

Abaixo vou relacionar algumas frases que sintetizam o que pretendo dizer com esta carta:

  • Projetos técnicos em turismo devem ser elaborados, realizados e/ou orientados por profissionais experientes  nesta área de conhecimento,  com a utilização de metodologias de referência.
  • Quem assina o projeto é o responsável por seu conteúdo.
  • Quem contrata os serviços é responsável pela qualidade que se apresenta.
  • Ao que consta ninguém está  “fazendo um favor”.  Os trabalhos profissionais  são remunerados na forma de salários ($) ou pro-labore ($).
  • "Não remunerados" são os atores da comunidade que dispõem de seu tempo e recursos, de forma voluntária, por motivos pessoais.
  • Acredito que,  remunerado  ou voluntário, o trabalho traz consigo a responsabilidade cidadã em relação à comunidade.
  • Representantes deveriam ser cidadãos ‘eleitos’. Portanto  o individuo ‘eleito’  deveria falar como representante do grupo de cidadãos que o elegeu . Seja este grupo de 10, 100, 1000 indivíduos.
  • Em inúmeras  situações, uma região inteira precisa acatar aquilo que 1 individuo “cheio de boas intenções” “achou” que “seria o melhor”. Isto numa localidade com uma população estimada em mais de 6 mil habitantes, como é o caso de Visconde de Mauá.
  • Portanto, acho que deveria se repensar quem seriam os intérpretes locais mais indicados para cada situação.
  • É muito importante, que os  estudos, projetos  e o planejamento, sejam realizados em função das necessidades e interesses do coletivo, preservando a identidade local e considerando sua localização em unidade de conservação,  com o controle da qualidade que se pretende para este destino turístico.

Mais uma vez, coloco a importância de se criar um Plano de Desenvolvimento Sustentável para a Região de Visconde de Mauá, no qual esteja entre outros, um Plano de Manejo Turístico.

Sem mais, grata pela sua atenção, abraço, Domitila


Comentário de Joaquim Moura

Motivado pela mensagem da Domitila, fui acessar o sítio "visiteagulhasnegras.com.br", já pressentindo que poderia estar em andamento uma nova iniciativa insuficientemente planejada e mal executada, como outras inconsistências que temos assistido se sucederem na região, como o Festival de Inverno fracassado, o EIA-RIMA insuficiente, a Audiência Pública desvirtuada, o projeto de gestão do lixo frustrado e a "requalificação" da vila de Visconde de Mauá começando pelo supérfluo e insustentável (em vez de urbanizar logo o Lote 10 e construir a sua creche).

É interessante notar que todas essas oportunidades perdidas são sistematicamente consideradas, por seus gestores e parceiros, como sucessos retumbantes de suas gestões, embora tal sucesso não se traduza jamais em desenvolvimento sustentável para a região. Prevalece ainda, no Brasil, infelizmente, em particular no setor público e agregados, a cultura do "fazer só para inglês ver", sem maiores compromissos com a realidade, a natureza e a cidadania. E sem jamais avaliar seriamente o que foi feito, para poder melhorar no futuro.

Logo ao acessar a página inicial, cliquei na opção "Turismo/Postos de Informações Turísticas", em vista da importância de nosso Posto para o negócio turístico da região de Visconde de Mauá. Qual não foi minha surpresa ao verificar que ele, apesar de já existir há muitos anos, não estava incluído na lista de "Postos", que só oferecia fotos e informações sobre os postos de Penedo e da Serrinha (que mal funcionam), e os serviços de um agente de turismo privado... 

Intrigado com essas inconsistências, fui procurar um assunto que conheço bem: o Centro Cultural Visconde de Mauá. Mas não havia nenhuma referência a ele nas seções "O que ver e fazer/Espaços Culturais" e "../Instituições Históricas e Culturais". Acabei encontrando ele em "../Bens Imóveis" (como assim?), e com o nome de Centro Cultural de Mauá" (de onde surgiu este nome?), e a foto ilustrativa é do Museu Bühler (puxa, estou impressionado). Quando cliquei e entrei na página correspondente, novas surpresas: há dez fotos do Museu Bühler , e mais informações deturpadas, imprecisões e erros de digitação.  

Depois fui verificar como se informavam os eventos culturais que ocorrem na região. Cliquei na opção "O que ver e fazer/Eventos Culturais" e vi, por exemplo, que o "Encontro de Corais em Visconde de Mauá" é divulgado como atividade permanente (pois não há qualquer referência a data ou época em que ele ocorre), tendo como "entidade mantenedora" uma tal Igreja de São Benedito (alguém na região conhece?), e não o Centro Cultural Visconde de Mauá, acima referido. Também a "Festa do Pinhão", principal evento popular e carro-chefe da Associação Comercial de Visconde de Mauá, é muito mal descrito. A própria ACVM é classificada como "Associação ou ONG internacional" (será?). O período da Festa é informado do seguinte modo: "Horário: Sexta, Sábado e Domingo a partir das 20h". Qualquer turista que leia essa informação vai pensar que a Festa acontece todos os finais-de-semana...

Não vou prosseguir nem detalhar a indigência profissional que caracteriza tal portal, nem a negligência ou despreparo de quem o aprovou e divulga (basta seguir o roteiro que indiquei acima e verificar ). E percebendo as falhas nos tópicos que conheço melhor, posso imaginar os erros constantes nas informações sobre tantas pousadas e eventos em tantos distritos e municípios que compõem a região fluminense das Agulhas Negras. E me espanta que nenhuma liderança da Mauatur tenha percebido ou se incomodado com a inconsistência dessas informações, levantadas e disponibilizadas pela parceria SEBRAE-RJ, UBM, Instituto Ideias, prefeituras de Itatiaia e Resende, Conretur etc. Todos satisfeitos com a mediocridade. Infelizmente a cultura que hoje predomina é a da leniência e da inconsequência, quando deveríamos justamente estar mais rigorosos do que nunca ("Urge, Drácon!" ) diante dos desafios do presente e do futuro.

Não quero aqui desqualificar todo o empenho do Sebrae, das prefeituras e das demais entidades parceiras, inclusive a Mauatur e a ACVM em melhorar a atividade turística na região, mas certamente seu trabalho seria muito melhor se incluísse, em seu planejamento e execução, a participação de outras lideranças e personalidades não diretamente ligadas à esfera comercial, aproveitando a experiência e a disposição em colaborar de inúmeros moradores que detém, pessoalmente ou através das ONGs que aqui atuam, largo conhecimento sobre a região e suas comunidades.

Dispensar essa colaboração multifacetada e sofisticada de educadores, ambientalistas, artistas, gestores ambientais, comunicadores etc., para contar apenas com a abordagem unidimensional (apenas o viés comercial) de pousadeiros, hoteleiros e empresários, resulta, inapelavelmente, nesse empobrecimento socioambiental progressivo que testemunhamos, fatal para o sucesso de seus/nossos esforços.  Com a nossa ajuda, esse portal do Sebrae/UBM/FGV seria muito melhor...


   

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