Carta de Lino Matheus ao Sergio Maia sobre
Questionário da Mauatur sobre "Visconde de Mauá 2010"


 

 

Prezado Sergio Maia,

Chegou-me às mãos, apenas ontem, dia 24, e por lembrança de pessoa amiga, o questionário do trabalho proposto pela Mauatur , de pesquisa de Cenários para a região de Visconde de Mauá. Apesar de lidar, há quase 30 anos, como pioneiro e assiduamente, com os problemas sócio –ambientais da Mantiqueira, não me sinto á vontade para auto-designar-me “ expert “ou perito em qualquer um deles... mas, com certeza, tenho uma visão bastante acurada da situação atual.

Por coincidência, há algum tempo atrás, encaminhei para discussão, no âmbito do Conselho, a sugestão de um trabalho conexo, discutido entre alguns ambientalistas fiéis, para o “ Levantamento de Cenários ( e Variáveis ) em projeção de 10, 20, anos, na APA da Mantiqueira, mas com enfoque global.

Nesse aspecto, permita-me fazer chegar até você, de maneira construtiva e à titulo de opinião partilhada por um numero considerável de pessoas com boa vivência de Mantiqueira ( experts.. ) e com interesses aqui localizados, algumas considerações sobre o enfoque dado ao questionário.

Entendido que é um trabalho do ponto de vista setorial de uma entidade voltada para o turismo, mas considerando que o turismo é um produto - colheita ou fruto - de um cuidadoso trabalho de preparo, sementeira, cultivo, ou desfrute de um Patrimônio preexistente, fica difícil encará-lo como uma mecânica alheia à uma visão mais abrangente, aprofundada e solidária, de toda uma estrutura social, cultural e sobretudo ambiental. Sabemos que não haverá sustentabilidade para um turismo adequado, se antes não equacionarmos os diversos aspectos do desenvolvimento regional, mormente os que dizem respeito à preservação criteriosa do Meio Ambiente, no qual ele se insere e do qual ele se alimenta. Mas sabemos também e constatamos, que - do modo como está sendo estimulado - esse turismo, descontrolado, existe e se alastra com ou sem essa adequação, e trazendo suas conseqüências, queiramos ou não... É preciso, portanto, que todos os aspectos levantados na Proposta, estejam inseridos e avaliados no contexto mais amplo do espaço geopolítico Mantiqueira... Talvez me engane, mas, para tratar séria e duradouramente do turismo, creio que deve-se tratar e cuidar de tudo, salvo dos aspectos corriqueiros e numéricos do turismo... Tenho escrito alguma coisa sobre essa intrigante concepção sociológica destinada aos peritos...

Ainda que se reconheça a (de certo modo lastimável , já que pressupõe a rendição e dependência, ao consumismo, aos modismos, aos critérios da urbe, das forças produtivas rurais tradicionais) importância do pendor de Visconde de Mauá, para as atividades hoteleiras, a Região é, antes de tudo, um estratégico “ portal “ - para o bem ou para o mal – de acesso à Mantiqueira e, como tal, tem que ser visto com a devida cautela e critério.

É de bom senso, portanto, analisar essas questões que afetam, localmente , o turismo, sobretudo como questões mais amplas, que implicam interesses coletivos, culturais, históricos, ecológicos, que de muito extrapolam os interesses imediatos de alguns comerciantes. Antes da rendição absoluta ao turismo desenfreado, há que se ponderar e deixar espaço para opções e benefícios mais autênticos e duradouros, talvez bem mais sustentáveis, benéficos e estratégicos do que a simples transformação de toda uma tradicional região rural, em quintal de recreio para o fim-de-semana da classe média urbana ( e que “classe” ...) e seus habitantes em garçons...ou caseiros... Um tanto chocante, não ?

Da maneira que se está aqui encarando o turismo, como uma “ panacéia “ - sem que ninguém coloque questionamentos - de forma imediatista, desordenada, não seletiva, e, até mesmo “mercantilista” ( isto é, investi o meu dinheirinho, quero meus lucros, o resto - a Natureza, por ex.- que se dane...), com certeza estão destruindo e matando a “galinha –dos- ovos-de-ouro” !

O fato último, é que o turismo, na região, existe em função do que ainda resta do Patrimônio Natural, dos cenários rurais da Mantiqueira e isso por si só, deveria ser um indicador e um alerta. Mas, infelizmente, devo aqui dizer, a maior parte dos que exploram esse filão, vivem às custas de um cabedal que , até hoje, não ajudaram a conservar...

Sem me estender mais, esperando que essas considerações, bastante francas (...), ajudem a estabelecer reflexões mais profundas e amplas sobre nossos problemas e colocando-me à disposição para colaborar no que estiver ao meu alcance,

Lino Matheus de Sá Pereira Agosto de 2005
Pousada / Fazenda Boa Vista, RPPN ( MG )

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tel / fax : 24- 99983614
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