Reunião de 18 de setembro de 2013 sobre compostagem urbana

Horário e local: Iniciada às 15h no “Restaurante do Dus”, na vila de Visconde de Mauá, Resende RJ.

Presentes:
Solange Pinto e Célia Santos (Agência de Meio Ambiente de Resende – AMAR); Rosângela Vieira, Jéssica Silveira e Marcus Carvalho (Centro de Referência em Educação Ambiental – CREAR/AMAR); Gaia Traverso e Eduardo Mattos Ribeiro (Colégio Estadual Antônio Quirino);
Bruno Vianna, Renata Diaz, Tainá Buzzatti, Franka Reitze e Felipe Pucci (voluntários do projeto Interactivos?’13) e Joaquim Moura (Centro Cultural Visconde de Mauá/ABIDES/Interactivos?’13-Reduzo Lixo),




Relato:


A reunião foi iniciada com a apresentação dos presentes. A seguir, foram discutidos alguns pontos, principalmente o papel da prefeitura nessa fase inicial do processo. A engenheira Solange, assessora do presidente da AMAR, informou que a prefeitura de Resende está disposta a apoiar o projeto de divulgação da prática da compostagem nas vilas de Visconde de Mauá e Lote 10, bem como em seus arredores, nos moldes “individual” e “comunitário”, mas não pretende assumir qualquer responsabilidade por sua operação e pelos problemas que possam advir da atividade.


Como esse “apoio sem responsabilidade” já é um primeiro passo na direção correta, não foi o caso de se insistir no fato de serem a coleta e a destinação do lixo uma obrigação legal e irrecorrível dos municípios, e serem as prefeituras as responsáveis inescapáveis pelo atingimento das metas previstas no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, instituído pela Lei Nacional de Resíduos Sólidos n# 12305, de 02/08/2010.

Essa Lei ainda estipula em seu Art. 36: "No âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, observado, se houver, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos:  (V) - implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e sociais formas de utilização do composto produzido;" Ora, o "titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos" é o poder municipal.

Se a prefeitura hoje se sente bem como responsável por um serviço que lança diariamente toneladas de lixo orgânico na natureza, melhor se sentirá quando adotar de fato um modelo de gestão mais responsável ambientalmente, que recicle os resíduos para a produção agrícola.

Como se trata de um processo irreversível em escala mundial, a prefeitura de Resende oportunamente assumirá sua responsabilidade inevitável em implantar sistemas de compostagem urbana, individuais e comunitários, que reduzam a parcela orgânica no lixo destinado ao aterro, (conforme as metas exigidas pelo PNRS), e também eliminem as despesas e os impactos decorrentes de seu transporte desnecessário e de seu manejo inadequado.

O tempo é o senhor da razão - embora seja ele também o fator crítico: logo ficará claro para a prefeitura que a gestão do lixo urbano exige a responsabilidade compartilhada pelo poder público e pelos cidadãos, mas sob a coordenação municipal. Sem tal coordenação e apoio da prefeitura, principalmente para viabilizar sistemas mais comunitários de compostagem, será impossível alcançar as metas do PNRS.

A seguir visitamos três minioperações de compostagem instaladas na vila de Visconde de Mauá:

A primeira delas vem ocorrendo desde maio de 2013 em um terreno perto da casa de Ruth e Cláudio Diniz – ele é o administrador regional da prefeitura de Resende em nossa região.

Ali foi instalado um composteiro maior (1,5m de altura; 1,0m de diâmetro) que recebe os resíduos orgânicos de sua cozinha e de mais dois restaurantes próximos (Dus e Pró-Nobis).

Depois fomos visitar a operação recém-iniciada no Colégio Estadual Antônio Quirino para compostar os resíduos vegetais crus da cozinha escolar.  Ao atender uma comunidade de quase 700 pessoas, a cozinha do CEAQ produz diariamente um volume significativo de resíduos vegetais crus, que passam agora a ser desviados do caminhão de coleta de lixo e do “aterro sanitário” distante mais de 50 km da nossa região.


Por fim, visitamos a compostagem em andamento no quintal do voluntário Joaquim Moura, em operação-piloto desde março de 2013, substituindo a minicentral comunitária que operou por mais de cinco anos, e desativada por que os proprietários da área precisaram dela de volta.

Na ocasião, abrimos o primeiro cilindro  de tela de arame confeccionado dentro do modelo de tela de arame soldado proposto pelo projeto Reduzo Lixo, medindo 1,0 m de altura por 0,60 m de diâmetro (o da direita, na foto ao lado, aberto e com seu conteúdo espalhado sobre o chão cimentado).

O conteúdo (cerca de 100kg de resíduos crus da cozinha) foi compostado entre 15 de março e 15 de junho de 2013, em cargas de 1,2 kg de resíduos vegetais crus em média por dia (família de três pessoas).

Ao abri-lo, verificamos que alguns materiais introduzidos não haviam se decomposto devidamente, e que o teor de umidade estava acima do desejável, evidenciando que não convém “regar” o composteiro nem deixá-lo exposto à chuva.

A deficiência de nitrogênio (introduzido apenas na forma de restos vegetais comestíveis crus) reduziu a população de microorganismos, minhocas etc.,, responsáveis por transformar os resíduos em húmus. Essa deficiência é de difícil superação, uma vez que as principais fontes de nitrogênio na compostagem rural provêm do estrume animal.

Sendo assim, tornam-se mais críticas as outras medidas que possam acelerar a decomposição, embora devamos nos satisfazer com ciclos mais longos para que ela ocorra suficientemente.

Como nosso principal objetivo não é produzir adubo excelente e rapidamente, mas sim desviar o lixo orgânico do caminhão e do aterro, não há problema no nosso adubo ser mais fraco, nem demorar mais para ser produzido.
 


Aparentemente o excesso de água expulsou o oxigênio, reduzindo a vida microbiana - principal responsável pela humificação - e deixou o material com essa aparência emplastrada que se vê ao lado e acima, como uma lama embolada com tufos de palha de grama e cascas de pinhão que ainda não se decompuseram suficientemente.

Afinal, os  100 kg de resíduos vegetais crus compostados nele são formados em mais da metade de seu peso por água.

Ou seja, o pequeno cilindro de 1,0 m de altura por 0,45 m de diâmetro (pouco mais de 200 litros de capacidade) recebeu, ao longo dos três meses, mais de 50 litros de água, além das últimas chuvas e de regas eventuais (desnecessárias ou até indevidas).

De qualquer modo não havia a presença de moscas, larvas ou mau-cheiro marcante.


Além de protegê-lo da chuva (com uma lona ou qualquer tipo de cobertura), talvez seja o caso de aumentar o tempo de enchimento dos cilindros e o período no qual os materiais ficarão decompondo depois de enchido o  cilindro (passando ambos os prazos de três para quatro meses).

Essas duas medidas, associadas à inclusão de uma “chaminé” no centro do cilindro para facilitar a aeração da zona central da pilha e à introdução, a cada mês, de um punhado de húmus de minhoca (contendo ovos) ou ainda algum “preparado bioenzimático” acelerador da humificação, deverão garantir que o processo esteja finalizado ao se abrir o cilindro no final do prazo estipulado.



Acima, o material que tinha sido espalhado no chão para avaliação foi recolocado no cilindro da direita para aguardar mais um mês. Note-se o excesso de umidade em sua porção inferior; a parte superior recebeu mais palha seca para absorver a umidade e facilitar a aeração.

À direita, o cano furado para facilitar a aeração no composteiro da sede da Nuvem Hack-Roça, preparado durante a vivência "Interactivos?'13" realizada entre os dias 5 e 19 de setembro de 2013, no vale do Pavão, região de Visconde de Mauá.


Conclusão


A reunião e as visitas a três pontos de compostagem serviram para esclarecer alguns detalhes, avaliar resultados, e permitir que desenvolvamos agora um projeto em conjunto com mais chance de sucesso.

A seguir será necessário planejar a abordagem aos moradores em uma visitação-piloto, focada prioritariamente nas casas, pousadas, restaurantes e escolas que possuam jardins e hortas bem cuidados e área aberta mais ampla.

Também precisamos planejar e produzir alguns impressos (folheto de motivação, ficha de cadastramento, formulário de monitoramento de resultados etc,); adquirir uma quantidade de tela suficiente para implantar até 50 composteiros; planejar uma rotina de apoio aos participantes e de monitoramento do volume de lixo desviado do aterro (para atingir as metas do PNRS).

Será elaborado um mapa socioambiental dinâmico que nos mostre espacialmente o desenvolvimento do sistema e seus efeitos.

Enquanto a prefeitura se prepara para adquirir experiência em compostagem urbana, um argumento decisivo
ao alcance do poder municipal, para motivar a comunidade a participar, será oferecer algum desconto no IPTU para quem desviar o seu lixo orgânico do caminhão e do "aterro sanitário".

Anexo 1:

Documentos relacionados: Miniprojeto de compostagem urbana para a região (março/2013); Compostagem escolar no CEAQ (14/09/2013); Considerações recentes (15/09/2013); Monitoramento eletrônico da temperatura no composteiro (17/09/2013)

Anexo 2:
Exemplos de composteiros colhidos no Google Images que usam o mesmo sistema de tela de arame.