Jorge Mautner
(no livro Panfletos da Nova Era - 1982)

Joaquim Moura - Coonatura

Joaquim Moura, o profeta da Coonatura é um pregador como na Biblia dos velhos tempos e dos tempos eternos da nossa história a refazer-se como avalanche incessante. Joaquim Moura é o profeta da revolução verde da agricultura natural. É o líder natural dos naturalistas, amigo de Ruschi, o poeta cientista dos beija-flores e da ecologia e defensor dos animais e vegetais.

Prático e teórico, parece um Tolstoi brasileiro eletrônico (desculpe-me o eletrônico, Joaquim), formado em Desenho Industrial (portanto conhecedor do cerne das coisas de seus "adversários" do industrialismo e tecnicismo excessivos) pode atuar como teórico assim como revolucionário prático em atividades pioneiras e fundamentais para a sobrevivência da nação e do planeta.

Primeiro administrou, com sua ex-esposa Ligia, uma fazenda natural nos rincões do Espírito Santo. Depois, através de inúmeras cartas, epístolas, programas, denúncias, proclamações e convocações endereçadas a ministros, religiosos, estudantes, cientistas, artistas, a todos os que enfim estavam interessados na sobrevivência global aqui-agora.

Depois passou a escrever em jornais e a promover debates entre os quais um deles - na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - onde ocorreu um encontro histórico, do qual participei. Além de Joaquim Moura e de mim, estavam lá o líder pan-gay social democrata Fernando Gabeira, estudantes e o professor de química Reinaldo Carvalho Silva, expulso da faculdade justamente por causa deste encontro, atitude tomada pelo diretor da UERJ, tendo em vista que - segundo declaração oficial do mesmo ao Jornal do Brasil, dias após o evento - "os participantes do encontro eram figuras notoriamente contra o regime que ele (o diretor) apoiava..."

Joaquim Moura por entraves burocráticos ainda não conseguiu licença para vender saúde em sua barraca chamada "Pureza". Com seus dois companheiros nesta jornada da aurora, André "o jovem cozinheiro de eterno sorriso de trigais na face", e Evandro "o orientalista antropofágico e estudante de kung-fu", Joaquim parte para outras iniciativas, tais como fazer comícios-teatrais relâmpagos em cruzamentos super-intoxicados nas horas e lugares de maior congestionamento automobilístico para pregar o oposto da ânsia.
"Pureza, que beleza,
a volta sem revolta para a mãe-natureza.
Que super esperteza!
Não é, meu principe, minha princesa?"